Na segunda-feira passada, 22, eu assisti ao lado de outros repórteres na redação a chegada do papa Francisco ao Brasil para a 28ª Jornada Mundial da Juventude. Comentei com o editor Luciano Tortaro sobre a vontade de estar no Rio de Janeiro e participar desse momento. Fiquei, mais uma vez, encantada com as cenas que vi. A simpatia e carinho com os fieis. Os acenos de mãos. As bênçãos. O que eu não imaginava era que em menos de 24 horas eu estaria a poucos metros de Francisco, ao vivo, pessoalmente, assistindo à sua passagem no famoso papamóvel.
Na terça-feira de manhã, o fotógrafo Divaldo Moreira me telefonou sugerindo a cobertura da viagem de francanos até Aparecida do Norte para acompanhar a visita do papa. Era excursão bate e volta. Consultei a editora-chefe do jornal, Joelma Ospedal, e prontamente ela apoiou a ideia. O diretor do GCN, Corrêa Neves Júnior, aprovou a proposta também. Estávamos autorizados. Começava a maratona.
Trabalhei até 17 horas, corri em casa, arrumei a mala, me vesti com três blusas, duas calças, duas meias e tênis. Estava frio, muito frio. A saída seria às 18 horas da Paróquia Santo Antônio. Mas até organizar passageiros em três ônibus, a partida atrasou duas horas. Mas eu estava tranquila. Não me importei com a demora. Acho que a emoção de encontrar Francisco me anestesiou.
Estava muito frio em Franca. No caminho, quem tinha consultado a previsão do tempo para Aparecida já alertava o grupo: ‘Vixe, a quarta-feira será de chuva o dia todo e frio”. Frio é suportável. Mas se chover, complica, pensei. A preocupação com o clima aumentou conforme a madrugada avançou. Batíamos queixo. Eu e o Divaldo ficamos tensos com isso. A tensão era tão grande que salaminhos dependurados em uma prateleira, para nós dois, viraram, vistos a distância, guarda-chuvas. Paramos num posto em Igaratá, a 120 quilômetros de Aparecida, e nós dois vimos os salames, enxergamos sombrinhas e comentamos que era uma boa comprá-las. Fui checar o preço. Custavam R$ 19,90, mas eram os benditos salames. Gargalhamos. Sem guarda-chuva, compramos capas por R$ 5 na chegada em Aparecida. Espertos, os vendedores entraram no ônibus e venderam os acessórios.
Chegamos em Aparecida pouco depois das quatro horas da manhã. Foram oito horas de viagem. Chuviscava e fazia frio de 11 graus, mas parecia muito menos. Depois de muito sufoco, eu e Divaldo conseguimos nos aproximar da basílica. Ele carregava cerca de 30 quilos de equipamento fotográfico e eu estava com minha mochila nas costas com notebook, água, barras de cereal e roupas reserva. Enfrentamos uma multidão antes de ter acesso ao espaço em frente à basílica. Os portões demoraram a ser abertos. Muitas pessoas passaram mal por causa do tumulto. Tive medo de ser esmagada. Mas conseguimos um ponto privilegiado, bem próximo de onde Francisco passaria horas depois.
Enquanto as longas três horas de espera pelo papa não terminavam, entrevistei baianos, paulistas e peruanos. Juan Pablo esteve em Aparecida com a mulher grávida de nove meses. Ela sofreu três abortos antes dessa gravidez. Foram agradecer.
Durante um bom tempo, helicópteros sobrevoaram a basílica, mas não consegui enxergar, é claro, se o papa estava dentro de algum deles. Ele não estava. Desceu exatamente às 10h11 em Aparecida de outro helicóptero. No primeiro trajeto no papamóvel, passou a poucos metros de mim. Eu estava bem próxima à grade. Testemunhamos o carisma dele ao vivo. E a disposição, admirável para um homem de 76 anos. E quando ele passa, o sentimento é de paz. É algo para não se esquecer. É para eu contar aos meus filhos.
Passamos frio, tomamos chuva, não almoçamos, sentimos dores no corpo, mas foi um dia único e eu faria tudo de novo. Desde quarta-feira, todas as noites me deitei e fiquei relembrando a visita de Francisco. Na mente, sempre vem a música “Francisco, Francisco, nós te acolhemos com amor!”.
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