‘Casos mais absurdos não são punidos da mesma forma’
O
padre bauruense Roberto Francisco Daniel, 47, classifica como exagerada
a punição que recebeu do bispo da Diocese de Bauru, dom Caetano
Ferrari, que o acusou de praticar atos de heresia contra a Igreja
Católica. Duas semanas após ser excomungado, o padre ainda se diz
surpreso com a decisão. Em entrevista concedida no último dia 12, na
sala de seu apartamento, ao lado de livros e esculturas religiosas de
vários credos criticou o modo “atrasado” da igreja no que diz respeito a
moral sexual e o comportamento humano. Expulso de sua paróquia e
proibido de celebrar missas e até de receber a eucaristia, o religioso
divide agora seu tempo com as atividades de professor universitário e um
programa de debate, com tema livre, transmitido em uma rádio de Bauru.
Assim como faz em frente ao microfone, padre Beto soltou a voz para o
Comércio. Disse que não é virgem e defendeu o sexo antes do casamento.
Comércio da Franca - Como o senhor reagiu à notícia da excomunhão?
Padre Beto - Recebi com admiração [a notícia], porque a igreja
reagiu de uma maneira extremamente rigorosa, aplicando em mim a pena
máxima. Simplesmente porque refleti sobre pontos que podem e devem ser
mudados na moral sexual da igreja. Depois, é claro, a Diocese de Bauru
mudou de postura, dizendo que não foram as reflexões, mas minha
desobediência ao bispo [dom Caetano], que havia pedido para eu retirar
todas as declarações publicadas na internet. Fiquei realmente muito
admirado e triste com isso porque existem muitos outros casos mais
absurdos que acontecem dentro da igreja que não são punidos desta forma.
Comércio - Por que acha que essas ideias incomodam?
Beto - Penso que é porque defendo a necessidade de uma reforma
profunda no que diz respeito a moral sexual da igreja. Ela [igreja]
ainda entende a sexualidade como algo negativo, algo sujo e impertinente
à natureza humana. Cria regras castradoras que impedem uma boa educação
sexual para heteros e homossexuais. A masturbação ainda é considerada
um pecado, o sexo antes do casamento também, sendo que uma boa parte dos
casais que eu celebrei o casamento já teve relações sexuais.
Comércio - O senhor discorda da postura da igreja?
Beto - Acredito que é realmente difícil alguém se casar com
outra pessoa sem saber como ela é na sua intimidade. É como um salto no
escuro. Isso sem falar no entendimento que a igreja tem de que a relação
sexual dentro do casamento só pode acontecer para procriação e não para
o prazer.
Comércio - O senhor entrou tarde para igreja, aos 27 anos. Era virgem quando começou o seminário?
Beto - Não. Já havia passado pela experiência da vida sexual,
mas optei por seguir uma vida religiosa, com o celibato. Como já disse
antes, em outro programa, não sou gay, mas defendo o direito deles
manifestarem o seu amor.
Comércio - Após a excomunhão, o senhor recebeu convites para ingressar na política. Tem interesse?
Beto - Acho que tenho mais a acrescentar sem vestir nenhuma
“camisa”. Aproveito para mandar uma mensagem aos cristãos de Franca:
fixem seus pensamentos no Cristo. Ele nos ensina a não ter preconceitos.
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