Entrevista: jovem católico prega diálogo com os pais e a virgindade
Com
a camiseta da Jornada Mundial da Juventude, Mailon Faciroli posa em
frente ao Cristo em Franca. Ele coordena a viagem de francanos para o
evento no Rio
O caminho até o cargo foi traçado paulatinamente. Segundo ele, não havia projeções e tudo aconteceu de maneira natural. Recém-casado, Mailon também teve que provar para outros de sua idade e para a sociedade que o jovem pode ser responsável e trabalhar em prol do próximo dentro e fora da igreja.
Como qualquer outro jovem de sua idade, ele gosta de sair, mas diz faltar opções de entretenimento em Franca. Com o intuito de solucionar esse problema, diz que luta pela criação de um plano de políticas públicas para a juventude.
Mailon articula ainda a participação de jovens em movimentos dominados praticamente por pessoas mais velhas, como na Pastoral da Saúde e os ministros da eucaristia e no âmbito social e político.
Durante uma hora e meia de entrevista feita na sua casa, onde também funciona seu escritório de trabalho, ele falou da Campanha da Fraternidade deste ano, que tem como tema “Fraternidade e Juventude”, da força do jovem, o por que de tantos se envolverem com drogas e dos planos de evangelização que tem.
A 80 dias da Jornada Mundial da Juventude, aproveitou para convidar os jovens a viverem essa experiência na presença do papa Francisco. A jornada acontecerá no Rio de Janeiro, de 23 a 28 de julho, e deverá ter a presença de dois mil jovens da Diocese de Franca.
Comércio da Franca - Como você conheceu o Setor Juventude?
Mailon Júnior Faciroli - O Setor Juventude é novo dentro da Igreja Católica. foi criado em 2006 pela CNBB [Conferência Nacional dos Bispos do Brasil] e tem uma atuação mais ampla do que a Pastoral da Juventude. O Setor é um espaço de comunhão que tem a função de integrar os jovens de todas as realidades e movimentos da Igreja Católica, respeitando a diversidade dos carismas. Foi em uma das reuniões, que o padre Adilson Fortunato, assessor do Setor, e o bispo Dom Pedro Luiz Stringhini [atualmente em Mogi das Cruzes] indicaram o meu nome e fui aceito. Aguardo agora a chegada do novo bispo para colocar o meu cargo à disposição. Ele é quem decidirá se devo ou não continuar.
Comércio - Antes de assumir o cargo, você já era envolvido com a Igreja e com a questão do jovem?
Mailon - Sim, sou fruto de grupo de oração, participo desde novo. Entrei com 14 anos. Minha família é católica, meus pais são catequistas e comecei a frequentar grupo de jovens na Capelinha, depois fui para a Catedral e agora estou na Paróquia Santo Antônio. Além de ser coordenador do Setor Juventude, participo da Renovação Carismática Católica, onde faço parte do Núcleo Ministério Jovem, que acompanha todos os grupos jovens da RCC.
Comércio - Os grupos de jovens são a porta de entrada do jovem para a igreja?
Mailon - O foco de um grupo de jovens é evangelizar e colocar a juventude para trabalhar. A ideia é fazer a evangelização dos jovens de maneira jovem, o próprio Hallel nasceu assim. Colocaram uma banda de rock para evangelizar. Em um grupo de jovem não há muito uma padronização, tem oração inicial, leitura da Bíblia e dinâmicas. Tem grupo, como o que participo, que possui ministério de dança e teatro. Hoje são praticamente 130 grupos nas 19 cidades da Diocese, alguns existem há mais de 15 anos e reúnem uma média de 50 a 70 jovens.
Comércio - Como você avalia a participação do jovem na Igreja?
Mailon - O jovem tem participado mais da igreja e está ganhando espaço. Tudo o que tem hoje na Diocese de Franca conta com a participação dos jovens, mas pode melhorar muito. Hoje quando se fala em jovem e igreja, as pessoas logo associam com grupo de jovens. Isso tem que mudar. O jovem pode estar na missa como salmista, ministro, participar de pastorais. Na Pastoral da Saúde, por exemplo, praticamente não há jovens e a gente não sabe o motivo. Para essa área há muitos jovens enfermeiros, fisioterapeutas que podem ajudar. As coisas precisam deixar de ser engessadas.
Comércio - Você também está na organização dos jovens para a Jornada Mundial da Juventude que será no Rio. Quais suas expectativas?
Mailon - Para essa Jornada no Rio de Janeiro, a expectativa é muito grande. Primeiro por ser ser a primeira viagem do novo papa [Francisco], depois por ele querer visitar vários lugares e ainda pela mensagem que vai passar e seu estilo franciscano. Os jovens estão bastante motivados, estão se preparando. Da Diocese de Franca irão dois mil jovens e lá a estimativa é reunir 2,5 milhões. O preço é R$ 900 e inclui o transporte de ida e volta, a hospedagem, as refeições, o translado na cidade, o seguro e kit peregrino. Ainda não sabemos onde iremos ficar, mas ninguém vai estar sozinho; para cada grupo de dez haverá um responsável. Os que desejam participar devem procurar sua paróquia até a primeira semana de maio.
Comércio - Além de batalhar para conseguir mais espaço para os jovens dentro da igreja, você passou a buscar por esse espaço para eles na sociedade. Como isso surgiu?
Mailon - Começou com a Campanha da Fraternidade deste ano. Diante do lema “Eis-me aqui, envia-me!”, passei a pensar que podia ir além da igreja. Logo descobrimos que o Conselho Municipal da Juventude estava parado, então passamos a trabalhar para reativá-lo. A intenção foi conhecer um pouco mais da realidade do município no que diz respeito à juventude. Enquanto coordenador do Setor Juventude não sou partidário, mas em pouco tempo as reivindicações começaram a dar resultado. Fiz três pedidos na Câmara Municipal, participei na tribuna e na sequência a Semana da Juventude foi aprovada e o conselho reativado.
Comércio - Você tem ambições políticas?
Mailon - Já fui chamado para me filiar, tive convite de três partidos, mas não tenho pretensão disso. Hoje no cargo que ocupo na igreja, a ideia é ajudar os jovens e consigo contribuir sem estar em algum partido.
Comércio - Franca carece de ações voltadas para a juventude?
Mailon - A cidade de Franca não oferece nada aos jovens, faltam opções. Os eventos que têm na cidade não são para a juventude, são para o público em geral. O poder público precisa pensar em mais atividades, ações focadas. Franca precisa ter um plano municipal para a juventude. Podemos, com o plano, estabelecer que em um determinado mês haverá dois eventos culturais; em outro, um show e escolher uma semana para ter ações nas escolas para prevenir o uso de drogas.
Comércio - Você acredita que a falta de opções de lazer na cidade motiva situações como a do “pancadão”, “festa” regada a drogas e funk, que acontece no Distrito Industrial?
Mailon - Sim, e a solução seria a criação de um espaço para a concentração dos jovens. Eles ficam sem espaços físicos e por isso se locomovem para regiões que não estão preparadas para receber essa movimentação. Depois vem a questão do equilíbrio: “tudo me é permitido, mas nem tudo me convém”. Entendo que tanto os pais como o poder público querem o melhor para os jovens. Mas é necessário um diálogo contínuo dos pais com os filhos e isso exige tempo e nem sempre temos esse tempo devido aos compromissos. Já o poder público precisa cada vez mais acompanhar e conhecer as necessidades dos jovens do município.
Comércio - O fato de um jovem entrar para o mundo das drogas também está relacionado à falta de lazer e de diálogo com os pais?
Mailon - Todos querem ser feliz, ninguém quer ser triste. Todos buscam a felicidade, porém a diferença está na forma como é feita essa busca. O mesmo acontece quando se está com problemas. Tem gente que procura a família, a igreja ou os amigos. Aí entra o papel dos pais, se eles não conversam, não aconselham, o filho vai procurar esse conselho lá fora, com outras pessoas, e muitas vezes esse amigo não é verdadeiro e vai apresentar como solução a droga. Ele experimenta porque vai se sentir bem. Não é uma revolta e sim falta de apoio. O jovem precisa se apoiar em alguém e nas drogas o jovem encontra uma felicidade momentânea. Quando o jovem tem uma religião, tem Deus, a visão muda, ele não precisa mais da droga, pois vai se sentir preenchido e vai começar a aceitar os problemas e procurar uma solução.
Comércio - Como católico engajado, você prega um namoro santo?
Mailon - Tem uma frase muito conhecida que diz: quem ama cuida. Cuidar está relacionado a respeito, carinho e romantismo que muitas vezes esquecemos. Viver o namoro santo é experimentar estas etapas. Não preciso pular etapas para dizer ou provar que amo, pelo contrário, saber esperar a hora certa é a grande prova de amor. Vejo isso de maneira muito clara quando jovens me dizem que não trocam cartas de amor, que só se encontram e mantêm relações sexuais e têm saudade do romantismo. Isso pode ser reconquistado; basta a renúncia por amor, não por obrigação.
Comércio - E qual sua posição sobre virgindade?
Mailon - A virgindade se refere àquele que espera o momento certo, porque sabe que é templo [igreja] vivo de Cristo e por isso necessita de um zelo. Viver a castidade não é motivo de tristeza e se lhe custa muito, é porque vale muito.
Comércio - Você também é contra o uso de camisinha?
Mailon - Particularmente, acolho o ensinamento da Igreja Católica, por isto não aconselho esse uso. Ao invés disso, aconselho a castidade. Para os casados como eu, aconselho o método de billings [tabelinha: método para prevenir a gravidez, evitando relações no período fértil].
Comércio - Questiona-se o celibato dos padres e que essa escolha poderia motivar os crimes de abuso sexual praticados por religiosos. O que você pensa a respeito?
Mailon - Desvio comportamental não depende do estado de vida e por isso não se limita a um segmento, como é o caso dos padres. Por isso essa colocação sobre os padres é equivocada.
Comércio - Os grupos de jovens incentivam as vocações?
Mailon - Os grupos auxiliam neste chamados. Aqueles que sentem este chamado para o sacerdócio são encaminhados para a Pastoral Vocacional. Vejo nossa diocese com muitos frutos de vocação.
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