BIAGGIO PAOLINO, O FREI BERARDO
Franciscano comemora um século
de vida na próxima terça-feira
A
lucidez, a alegria contagiante e a fé inabalável são características
marcantes desse religioso italiano, que reside no Brasil há mais de seis
décadas e na próxima terça-feira, dia 11, completará cem anos de vida.
Biaggio Paolino ou simplesmente frei Berardo é um dos fundadores da
Ordem Franciscana dos Frades Menores no interior do Estado de São Paulo.
Ajudou a construir seminários, igrejas e a conseguir doações para obras
sociais da comunidade. Sempre ligado as questões do campo, hoje ele
vive no convento franciscano Santa Maria dos Anjos, na estrada vicinal
que liga Franca a Ribeirão Corrente e é uma figura admirada por todos
que o conhecem.
“O frei Berardo tem muita fé em Deus, vê a vida e as pessoas de forma
positiva. É um homem com muita sabedoria de vida, nosso patriarca”,
resumiu o pároco da Paróquia São Judas Tadeu, frei Antônio Carlos
Marchioni.
Em razão do avanço da idade, frei Berardo, que hoje depende de uma
cadeira de rodas, não está mais na ativa como antes, porém faz questão
de participar da missa e orações diárias e, quando possível, das
reuniões administrativas da ordem. Também continua sendo conselheiro
para quem o procura e exemplo de vida para os religiosos recém chegados,
além de manter a leitura, a escrita e sempre estar em meditação.
Filho mais novo de um casal de fazendeiros (que teve seis filhos),
Berardo nasceu em Alvignano, na província de Caserta. Antes de entrar
para o seminário, trabalhou na terra e mesmo quando decidiu por seguir a
vida religiosa não abandonou o ofício. “Quando cheguei no convento, o
superior achou melhor que eu ficasse com os trabalhos do jardim”, disse o
frei, já justificando o fato de não ter se tornado padre.
A decisão de abandonar a família e os bens - semelhante a de São
Francisco - foi ato de coragem e não teve a aprovação de seu pai. Frei
Berardo diz que a escolha era “o caminho mais fácil de encontrar Deus e
de viver em paz”.
Com o sotaque italiano ainda carregado, frei Berardo disse que o pai
chegou a oferecer uma propriedade em troca de sua saída do convento. A
oferta deixou o jovem, na época com 22 anos, balançado mas foi recusada
após ouvir uma voz na igreja dizendo que ele tinha sido escolhido para a
vida religiosa. “Andei 15 quilômetros a pé de madrugada só para dizer
ao meu pai que não queria nada e a terra podia ser dada para outro.”
De volta ao convento, permaneceu no local por mais 12 anos até receber o
convite para vir ao Brasil onde havia a necessidade de religiosos. A
circular partiu do bispo diocesano de Jaboticabal, que pagou a viagem
para a vinda dos religiosos, ainda na década de 40. No grupo inicial
eram 12, mas somente cinco padres e cinco “freis-irmãos” fizeram a
viagem. Berardo estava entre eles e é hoje o único sobrevivente.
A VIDA NO BRASIL
A viagem até o Brasil foi feita em um navio que também fazia o
transporte de carga. Foram 15 dias em alto mar até chegar ao Rio de
Janeiro em abril de 1947. De lá partiram de trem para São Paulo e
posteriormente viajaram ao interior, onde foram distribuídos em cinco
cidades. “Não havia franciscanos na região, eles foram os primeiros e
ajudaram na implantação de seminários, casas de formação e nas obras
sociais”, conta frei Carlos.
Frei Berardo foi morar primeiramente em Bebedouro com um padre e a
permanência na cidade durou sete meses. Depois teve passagem por
Mirassol, Olímpia, Paulo de Faria, Guaraci, Ribeirão Preto, todas no
interior de São Paulo, até chegar em Franca no ano de 1995.
Em suas andanças, frei Berardo se especializou na arte de esmolar e com
o dom da palavra conseguiu doações até de fazendeiros mais resistentes.
“Andava em uma belina onde carreguei até porco gordo”, lembra, às
gargalhadas, que são uma de suas marcas e também, segundo acreditam os
freis com quem ele vive, um dos segredos para sua longevidade.
Com uma saúde de ferro, Berardo sempre teve uma vida regrada. Às vezes
que foi parar no hospital ocorreu por conta do jejum prolongado. Além de
São Francisco, frei Berardo também admira Santo Agostinho, aprovou a
escolha do novo papa e diz já ter pedido [faz o gesto com as mãos] mais
dez anos de vida.
Apaixonado pelo convento onde mora, frei Berardo tem inclusive planos
para os próximos anos. Quer comprar duas vacas “boas de leite” com a
venda de cinco vacas que ganhou, construir um poço artesiano e montar um
pomar com muitas frutas.
Nesta semana, receberá os parabéns e participará da missa em louvor aos
seus 100 anos marcada para terça-feira, dia 11, às 19h30, na Igreja São
Judas, uma das paróquias franciscanas construídas pela ordem - hoje com
40 freis em oito cidades -que Berardo ajudou a fundar na região.
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