Ouviram do Ipiranga as margens plácidas De um povo heróico o brado retumbante, E o sol da liberdade, em raios fúlgidos, Brilhou no céu da pátria nesse instante. Se o penhor dessa igualdade Conseguimos conquistar com braço forte, Em teu seio, ó liberdade, Desafia o nosso peito a própria morte! Ó Pátria amada, Idolatrada, Salve! Salve! Brasil, um sonho intenso, um raio vívido De amor e de esperança à terra desce, Se em teu formoso céu, risonho e límpido, A imagem do Cruzeiro resplandece. Gigante pela própria natureza, És belo, és forte, impávido colosso, E o teu futuro espelha essa grandeza. Terra adorada, Entre outras mil, És tu, Brasil, Ó Pátria amada! Dos filhos deste solo és mãe gentil, Pátria amada, Brasil! Deitado eternamente em berço esplêndido, Ao som do mar e à luz do céu profundo, Fulguras, ó Brasil, florão da América, Iluminado ao sol do Novo Mundo! Do que a terra, mais garrida, Teus risonhos, lindos campos têm mais flores; "Nossos bosques têm mais vida", "Nossa vida" no teu seio "mais amores." Ó Pátria amada, Idolatrada, Salve! Salve! Brasil, de amor eterno seja símbolo O lábaro que ostentas estrelado, E diga o verde-louro dessa flâmula - "Paz no futuro e glória no passado." Mas, se ergues da justiça a clava forte, Verás que um filho teu não foge à luta, Nem teme, quem te adora, a própria morte. Terra adorada, Entre outras mil, És tu, Brasil, Ó Pátria amada! Dos filhos deste solo és mãe gentil, Pátria amada, Brasil!

sábado, 22 de junho de 2013

Casca de banana

 

 

 

 

Casca de banana


Estou me lembrando dela. Sumiu, há anos. As nossas virações, os passeios, os agarrados à noite, nas ruas desertas, aquele escorregão que ela levou, perdendo o sapato e quase esfolando o pé. E passou a me culpar por isto. Como? Ela que, avoada, escorregou na casca de banana. Gritou e me culpou. Acordou um dos vizinhos do outro lado da rua, que acendeu a luz, abriu a janela, olhou, depois se recolheu e apagou-a. E ela falando, falando, culpando-me, xingando-me como uma louca. Mostrei-lhe a casca da banana onde pisara. Não adiantou. Dei-lhe um tapa. Claro! Quem ela pensou que era? Mandei-a para aquele lugar, sim, mandei-a. Meti-a, na marra, no carro, aos empurrões, para levá-la para casa. E não tínhamos bebido nada. E ela falando, falando, culpando-me, que isto, que aquilo, um inferno, uma metralhadora. E que o dedo estava doendo, que perdeu um sapato, que eu tinha de lhe dar um par de sapatos novos, um auê dos diabos. Deixei a casca de banana de lado e voltei a mandá-la para aquele lugar um milhão de vezes. Entrou em casa descalça, o outro sapato na mão, fazendo um comício contra mim e dizendo que não queria mais me ver. Pode? Fui embora na disparada e quase entro na contramão e bato num carro, que buzinou sem parar.

Pronto. Não nos vimos mais, nem nos telefonamos. Meti-me com outros amores. O tempo passou, os anos correram. E eis que hoje, de repente, me lembrei dela. Não sei por onde andará. Veio-me uma ponta de saudade. Tivemos momentos inesquecíveis. Era meio avoada, mas doce e amorosa.

Tudo bem. São coisas da vida. Passou. Deixa pra lá. Depois de tanto tempo me vem essa lembrança viva, ela quase presente.

Vou dar o meu passeio matinal. Tirá-la da cabeça. Tranco a casa, cumprimento alguns vizinhos e vou girando pelos quarteirões de sempre. Tento assoviar, o som sai murcho. E vou andando. E vejo ali, à minha frente, sobre a calçada, uma casca de banana. O ódio me domina de repente. Mais berro do que falo:

- Jogar essa porcaria no chão! Devia ser preso! Vá!!!

Chutei-a com tanta violência que ela voou e foi silenciosamente pousar e dormir na calçada em frente. Passantes olharam-me curiosos e assustados.

Segui em frente, olhando, com um pouco de pena, para a casca de banana, que me lembrava a outra do passado e praticamente corporificava, ao meu lado, a figura meio avoada, mas doce e amorosa, de tantos passeios noturnos, entre afagos, pelas ruas desertas da cidade.

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