Franciscano comemora um século de vida na próxima terça-feira

“O frei Berardo tem muita fé em Deus, vê a vida e as pessoas de forma positiva. É um homem com muita sabedoria de vida, nosso patriarca”, resumiu o pároco da Paróquia São Judas Tadeu, frei Antônio Carlos Marchioni.
Em razão do avanço da idade, frei Berardo, que hoje depende de uma cadeira de rodas, não está mais na ativa como antes, porém faz questão de participar da missa e orações diárias e, quando possível, das reuniões administrativas da ordem. Também continua sendo conselheiro para quem o procura e exemplo de vida para os religiosos recém chegados, além de manter a leitura, a escrita e sempre estar em meditação.
Filho mais novo de um casal de fazendeiros (que teve seis filhos), Berardo nasceu em Alvignano, na província de Caserta. Antes de entrar para o seminário, trabalhou na terra e mesmo quando decidiu por seguir a vida religiosa não abandonou o ofício. “Quando cheguei no convento, o superior achou melhor que eu ficasse com os trabalhos do jardim”, disse o frei, já justificando o fato de não ter se tornado padre.
A decisão de abandonar a família e os bens - semelhante a de São Francisco - foi ato de coragem e não teve a aprovação de seu pai. Frei Berardo diz que a escolha era “o caminho mais fácil de encontrar Deus e de viver em paz”.
Com o sotaque italiano ainda carregado, frei Berardo disse que o pai chegou a oferecer uma propriedade em troca de sua saída do convento. A oferta deixou o jovem, na época com 22 anos, balançado mas foi recusada após ouvir uma voz na igreja dizendo que ele tinha sido escolhido para a vida religiosa. “Andei 15 quilômetros a pé de madrugada só para dizer ao meu pai que não queria nada e a terra podia ser dada para outro.”
De volta ao convento, permaneceu no local por mais 12 anos até receber o convite para vir ao Brasil onde havia a necessidade de religiosos. A circular partiu do bispo diocesano de Jaboticabal, que pagou a viagem para a vinda dos religiosos, ainda na década de 40. No grupo inicial eram 12, mas somente cinco padres e cinco “freis-irmãos” fizeram a viagem. Berardo estava entre eles e é hoje o único sobrevivente.
A VIDA NO BRASIL
A viagem até o Brasil foi feita em um navio que também fazia o transporte de carga. Foram 15 dias em alto mar até chegar ao Rio de Janeiro em abril de 1947. De lá partiram de trem para São Paulo e posteriormente viajaram ao interior, onde foram distribuídos em cinco cidades. “Não havia franciscanos na região, eles foram os primeiros e ajudaram na implantação de seminários, casas de formação e nas obras sociais”, conta frei Carlos.
Frei Berardo foi morar primeiramente em Bebedouro com um padre e a permanência na cidade durou sete meses. Depois teve passagem por Mirassol, Olímpia, Paulo de Faria, Guaraci, Ribeirão Preto, todas no interior de São Paulo, até chegar em Franca no ano de 1995.
Em suas andanças, frei Berardo se especializou na arte de esmolar e com o dom da palavra conseguiu doações até de fazendeiros mais resistentes. “Andava em uma belina onde carreguei até porco gordo”, lembra, às gargalhadas, que são uma de suas marcas e também, segundo acreditam os freis com quem ele vive, um dos segredos para sua longevidade.
Com uma saúde de ferro, Berardo sempre teve uma vida regrada. Às vezes que foi parar no hospital ocorreu por conta do jejum prolongado. Além de São Francisco, frei Berardo também admira Santo Agostinho, aprovou a escolha do novo papa e diz já ter pedido [faz o gesto com as mãos] mais dez anos de vida.
Apaixonado pelo convento onde mora, frei Berardo tem inclusive planos para os próximos anos. Quer comprar duas vacas “boas de leite” com a venda de cinco vacas que ganhou, construir um poço artesiano e montar um pomar com muitas frutas.
Nesta semana, receberá os parabéns e participará da missa em louvor aos seus 100 anos marcada para terça-feira, dia 11, às 19h30, na Igreja São Judas, uma das paróquias franciscanas construídas pela ordem - hoje com 40 freis em oito cidades -que Berardo ajudou a fundar na região.
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