Ouviram do Ipiranga as margens plácidas De um povo heróico o brado retumbante, E o sol da liberdade, em raios fúlgidos, Brilhou no céu da pátria nesse instante. Se o penhor dessa igualdade Conseguimos conquistar com braço forte, Em teu seio, ó liberdade, Desafia o nosso peito a própria morte! Ó Pátria amada, Idolatrada, Salve! Salve! Brasil, um sonho intenso, um raio vívido De amor e de esperança à terra desce, Se em teu formoso céu, risonho e límpido, A imagem do Cruzeiro resplandece. Gigante pela própria natureza, És belo, és forte, impávido colosso, E o teu futuro espelha essa grandeza. Terra adorada, Entre outras mil, És tu, Brasil, Ó Pátria amada! Dos filhos deste solo és mãe gentil, Pátria amada, Brasil! Deitado eternamente em berço esplêndido, Ao som do mar e à luz do céu profundo, Fulguras, ó Brasil, florão da América, Iluminado ao sol do Novo Mundo! Do que a terra, mais garrida, Teus risonhos, lindos campos têm mais flores; "Nossos bosques têm mais vida", "Nossa vida" no teu seio "mais amores." Ó Pátria amada, Idolatrada, Salve! Salve! Brasil, de amor eterno seja símbolo O lábaro que ostentas estrelado, E diga o verde-louro dessa flâmula - "Paz no futuro e glória no passado." Mas, se ergues da justiça a clava forte, Verás que um filho teu não foge à luta, Nem teme, quem te adora, a própria morte. Terra adorada, Entre outras mil, És tu, Brasil, Ó Pátria amada! Dos filhos deste solo és mãe gentil, Pátria amada, Brasil!

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Como era bom...

Como era bom...
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Namoro era fase que precedia noivado e garantia, de certa forma, casamento.
Era assim: dois jovens – um rapaz e uma moça – se olhavam rapidamente durante certo tempo, olhavam-se demoradamente mais um pouquinho. Esse preparo se chamava flerte. Nessa etapa, quando eles se cruzavam nas ruas – no sentido antigo, cruzar era se encontrar acidentalmente numa esquina, festa, missa – os corações deles paravam. Dava frio na barriga, as pernas amoleciam. De ambos. Falavam fino, a voz lhes faltava. Elas ruborizavam mais, por baixo do rouge. Eles gaguejavam. Até falavam besteira. Não! Palavrão, não! Trocavam sílabas, erravam na concordância verbal, chamavam de Sol a Lua e vice-versa.
Quando dava coragem, ou os amigos auxiliavam dando empurrãozinho, acontecia o pedido feito quase de joelhos: ‘Quer namorar comigo?’. Esperado sim ou desalentador não, vinha da outra parte. Um sim moderado: era feio demonstrar euforia. Um não acachapante. Motivos: meu pai é uma fera; nossas famílias são rivais; meu irmão acha que você não presta. Tinha horário e dia para namorar. Oficialmente acontecia nos finais de semana; não oficialmente nos intervalos das aulas no colégio, antes ou depois da ida ao dentista; quando os amigos avisavam que fulano ou fulana estava em tal lugar assim, assim, o que, aliás, era hora de sair correndo só para ver. Nem que fosse de longe. Quando não dava para avisar, o amigo – ou amiga – diziam para irritar a gente: ‘Vi para você!’ Outra coisa, dos antigamentes, o sentido do verbo dar. Mudou muito. Era verbo conjugado sem malícia e o afirmar que ‘alguém deu’ equivalia mostrar pendor ou disposição para alguma coisa. Geralmente mais nobre que isso que a gente pensa hoje.
Noivado era a sacralização do namoro. O rapaz ia solenemente à casa da moça, conversava com o pai dela, falava de suas intenções, como se ninguém houvesse percebido. O moço tinha crises de medo, tinha vertigens. Firme, pedia a mão da moça em casamento. A mão era dada. (E olhe lá!). A mãe dela chorava, como se tivesse sido pega de surpresa. Aí vinha a festa de noivado. Festa? Havia! Vinha padre benzer as alianças, as famílias se juntavam, algumas primas e primos mais ousados tomavam homérico porre, alguns segredos eram revelados: ‘eu sempre fui apaixonado por ela; eu quem deveria estar no lugar dela’, coisas de dor-de-cotovelo. Esse período marcava o começo do preparo do enxoval, da execução das bainhas nos guardanapos, dos cursos de culinária, de bordados e do fim do curso de segundo grau que a moça fazia. Viagens sozinhos? Só com a família inteira! Ou com tia, mais complacente. Ou com a irmã. Como em outras épocas, algumas noivas desse antigamente preservavam a virgindade a qualquer custo. Poucas queriam se livrar dela. Se para rapazes retrógrados virgindade era selo de segurança, para muitos era mero detalhe físico, sem qualquer importância. Naquele tempo não existia Aids e doenças sexualmente transmissivas eram coisas de rapazes menos qualificados, que apenas as moças muito religiosas aceitavam porque ‘homem é assim mesmo: tem o diabo no corpo.’ É. Havia mulher besta naqueles antigamentes.
Depois do noivado, marcava-se o casamento. Vestido de noiva: branco virginal. Preparava-se a festa. Procurava-se casa – nem tão perto das sogras de forma que elas pudessem vir de chinelos; nem tão longe que precisassem fazer malas. Chamar pajens para carregar a aliança? Padrinhos? Madrinhas? Chegavam os presentes, tirava-se fotografia no meio deles. Fotos do brinde de champanhe com os braços entrelaçados. Dentro do carro nupcial. Olhos brilhantes de felicidade. A mãe dela, emocionadíssima e aliviada. O pai dela, eufórico: descontara uma duplicada, dizia. A mãe dele, preocupada. O pai dele temendo a precipitação.
Considerações do tempo da zagaia, para relembrar época de situações e histórias por vezes recheadas de hipocrisia, maldade, inveja, erros e acertos, mentiras que, afinal, são peculiares aos seres humanos, de qualquer tempo. Hoje se fala com naturalidade do namorido - companheiro cujo estado civil fica em algum lugar entre o namorado (sem compromisso) e o marido (instituição); as pessoas anuem aos casamentos de dois homens ou de duas mulheres sem qualquer traço de surpresa e as crianças contam – de forma peculiar e tranquila – da nova separação dos pais dos colegas. O amor e suas formas está banalizado.
Em vista da proximidade do dia dos namorados levanto a bandeira da volta das emoções e daqueles momentos lindos. Torço pela volta do frio na barriga, do joelho trêmulo, do estremecimento da voz à simples vista do ser amado: isso existiu e, meu Deus! como era bom. (7 de junho de 1969. 44 anos que Wilma de Souza, colega de curso na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Franca procurou a morte. Por amor. O texto de hoje é dedicado a ela.)
INVEJA
Mel Gibson, filme What Women Want - Do que as mulheres gostam. Ele e Helen Hunt são rivais e trabalham na mesma agência publicitária. Assustado, ele se vê capaz de ler pensamentos femininos. Inclusive os dela. Ambos disputam conta de importante projeto e ele desenvolve campanha publicitária baseada nas idéias dela, perscrutadas às escondidas e melhores que as suas. Pouco antes da apresentação já sabe que vai vencer: as idéias são muito boas e a decisão virá de mulheres que jamais resistem a seu charme. Remoído, procura amigo que lhe garante ser aquele, seu dia de sorte. Surpreso, o amigo escuta-o confessar que vai pedir desculpas e revelar a verdade. ‘Odeio meu comportamento! Os homens são fraudes!’, diz. E completa: ‘Mulher quando ama não sacaneia. E sabe aquele negócio de pênis? Não é verdade. Elas não invejam. Metade delas nem gosta. Sabe quem inveja o pênis? Nós! Nós traímos, mentimos, pois somos obcecados por esse equipamento!’
EXPLICAÇÃO
‘Quando a pessoa está apaixonada, começa por enganar a si mesma e acaba enganando os outros. Isso é o que o mundo chama de romance.’ (Oscar Wilde)

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